Siga-nos:
Pesquisar
Feche esta caixa de pesquisa.

ANTISSEMITISMO NO
BRASIL E NO MUNDO

Eu perdi dois grandes amigos durante a guerra de Israel contra o Hamas, mas não porque eles morreram

Texto escrito por Abigail Letson, originalmente publicado no site Aish.com em 15/04/2024 no qual a autora a perda de dois grandes amigos durante a guerra de Israel contra o Hamas, mas não porque algum deles tenha morrido.

Assim como muitas pessoas, eu conheci dois dos meus amigos mais próximos quando estava na faculdade. No começo, nos dávamos bem por causa de algum trabalho, de um colega chato, ou talvez pela chatica dos empregos que são relegados aos estudantes universitários. O fato é que ficamos muito próximos e, por muitas vezes, eu inclusive os convidei para feriados judaicos, como Pêssach. Uma experiência nova para duas pessoas que nunca tiveram uma melhor amiga judia antes – ou talvez apenas uma amiga judia.

Ao longo da nossa década de amizade, eles aprenderam sobre a história da minha família – especialmente a história do meu avô como sobrevivente do Holocausto. Eles estavam lá quando conheci meu namorado israelense. Eles estavam lá quando me mudei para Israel. E eu estava lá quando eles começaram um comércio de produtos esotéricos e quando começaram a usar pronomes não binários. Quando eles fizeram festas de formatura e começaram a promover orgulhosamente o comunismo. Quando declararam ACAB – todos os policiais são porcos* – para apoiar o movimento Black Lives Matter.

Não tinha importância se eu concordava ou não com suas orientações políticas, porque eles eram dois dos meus amigos mais próximos, pois eu os conhecia desde os 18 anos. Você não pode simplesmente jogar fora uma amizade assim por causa de divergências políticas. É verdade que eles não eram tão radicais quando os conheci, mas ainda eram boas pessoas.

Era isso que eu me dizia o tempo todo durante muitos anos. E embora eu seja uma judia abertamente sionista e orgulhosa (na entrada da nossa casa tem uma enorme hamsa), eu nunca os pressionei sobre suas opiniões sobre Israel. Em parte porque pensei que eles estavam com muito medo de serem honestos comigo e em parte porque eu sabia que, no fundo, eles estavam com muito medo de me dizer a opinião sincera deles sobre esse assunto.

Até 7 de outubro aconteceu.

Na sequência dos bárbaros ataques terroristas em Israel, escrevi sobre a minha experiência no dia 7 de outubro e sobre a minha perspectiva da guerra e da situação geopolítica resultantes. Este artigo – sem restrições ao detalhar as minhas crenças políticas e frustrações – irritou os meus dois amigos que finalmente revelarem as suas opiniões sobre Israel.

Como eles fizeram isso? Através das redes sociais.

Eu fiiquei furiosa e enojada quando eles difamaram Israel com acusações de genocídio antes mesmo do final do mês de outubro. A cada postagem em homenagem a cada mártir palestino. Quando alegaram que Israel roubou os corpos de crianças palestinas para propaganda. E o pior de tudo, quando publicaram que os reféns estão “acenando, sorrindo e demonstrando emoções positivas em relação ao Hamas”. E para quê? Porque sua melhor amiga – que facilmente poderia ter sido uma das almas infelizes sequestradas, estupradas ou assassinadas – contou-lhes a experiência daquele dia trágico.

A depravação moral e a covardia deles me deixaram furiosa, mas não fiquei nada surpresa. Tudo o que eles defenderam e como construíram as suas vidas estava perfeitamente alinhado com o idealismo da esquerda radical e quando alguém adere a uma ideologia, independentemente de onde ela se enquadra no espectro político, pode rapidamente sucumbir à mentalidade de seita. E, se você não se enquadra no quadro moral declarado supremo pela tribo… você leva o chute. Mesmo que vocês sejam amigos há uma década.

Um estudo publicado no American Journal of Political Science pelos autores Peter K. Hatemi, Charles Crabtree e Kevin B. Smith demonstra que é mais provável que as crenças morais sejam resultado de ideologia política e não o contrário. Isto explica porque, no fundo, não fiquei tão surpresa com a traição dos meus amigos, porque a esquerda política radical difama Israel abertamente. Também explica porque é que os Judeus são particularmente susceptíveis ao ódio ideológico que domina ambos os lados do espectro político, especialmente considerando que o antissemitismo parece enquadrar-se na teoria da ferradura: afirmando que ambos os extremos do espectro político estão, na verdade, estreitamente alinhados, em oposição a opostos absolutos. Com a moralidade moldada pela crença ideológica, os extremistas retratam os judeus não apenas como “outros”, mas como maus.

Para a extrema esquerda, os judeus, e por extensão Israel, são vistos como opressores capitalistas dominadores – uma noção que se enquadra perfeitamente na sua visão de mundo vítima-vitimador, onde tudo gira em torno do poder. Para a extrema direita, os judeus são parasitas sorrateiros disfarçados de brancos, que querem substituir os verdadeiros brancos. Mas é possivelmente aí que terminam as diferenças entre a extrema esquerda e a direita no que diz respeito ao antissemitismo. Os extremos de ambos os lados, sendo mais propensos a acreditar em teorias da conspiração, são, portanto, mais propensos a acreditar nos mesmos tropos antissemitas. De acordo com a ADL, as pessoas que tendem a acreditar em teorias da conspiração endossam 3,8 vezes mais tropos antissemitas.

A crença de que os judeus detêm demasiado poder na política, em Hollywood, nos meios de comunicação, em Wall Street – todas estas são características clássicas do antissemitismo na extrema esquerda e na direita. A fixação obsessiva pelos judeus e pelo dinheiro, que remonta aos tempos medievais, é particularmente difundida. Tudo isto culmina numa desconfiança, antipatia ou ódio geral pelos judeus, contribuindo para a nova descoberta da ADL de que “mais de 42% dos americanos têm amigos/familiares que não gostam de judeus (23,2%), ou consideram socialmente aceitável para uma pessoa próxima, ou membro da família apoiar o Hamas (27,2%).”

Com estes números é difícil para os judeus saberem em quem podem confiar. Depois que meus amigos revelaram o quão profundamente antissemitas eles são, não pude deixar de me perguntar silenciosamente sobre meus outros amigos. Quem mais estava promovendo secretamente crenças antissemitas? Quem mais propagaria mentiras sobre Israel que se traduzissem diretamente em violência contra os judeus? Quem mais se importava tão pouco se nós, judeus, vivíamos ou morríamos para contribuir para essa violência?

A resposta? Não sei. Acontece que o próprio ato de publicar o artigo que enfureceu os meus dois amigos radicais – a expressão descarada das minhas crenças – serviu como o escudo perfeito. Tudo o que me restou foram os amigos que realmente valorizavam minha vida. E o alívio em saber que você está cercado por pessoas com intenções genuínas e que têm amor por você – sem ter que se perguntar se eles iriam escondê-lo ou arrastá-lo pela garganta até os nazistas na década de 1940 – esse sentimento é inefável. É um presente.

O dia 7 de outubro forçou muitos judeus a olhar em volta e a perguntar-se se estariam entre verdadeiros amigos. É uma perspectiva assustadora pensar que aqueles que você ama não se importam se você vai viver ou morrer – considerar que talvez sua intuição não seja tão forte quanto o engano deles é hábil. Mas o problema da ideologia radical é apenas isso: é radical, e o radicalismo nunca fica em silêncio por muito tempo, especialmente frente ao confronto.

Ainda tenho amigos com visões políticas das quais discordo, mas agora não escondo nada. Eu os desafio em suas opiniões sobre Israel. Eu os lembro da realidade de viver aqui. Não medi palavras sobre minhas opiniões sobre as iniciativas da IDF e não me importo se ofendo alguém ao contar minha verdadeira experiência de guerra.

Por muitas razões, não podemos nos dar ao luxo de evitar conversas desagradáveis, especificamente sobre Israel e o antissemitismo, mas como judeu na diáspora, é a única maneira de garantir que as pessoas que ainda permanecem na sua vida sejam aquelas que a valorizam.

*ACAB – All cops are bastards; em português “todos os policiais são porcos”. É um slogan político que foi cunhado na Inglaterra na década de 1920 e que voltou a ser usado a partir de 2020, após o assassinato de Geroge Floyd por um policial na cidade de Minneapolis nos Estados Unidos.

Compartilhe:

Comentários

Inscrever
Notificação de
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

ÚLTIMOS POSTS

Tags Populares