No dia 03 de agosto de 2024 foi aberta a nova exposição da UNIBES Cultural “Anne Frank: deixe-nos ser” que ficará em cartaz até dia 22 de dezembro deste ano e tem visitação gratuita ao público às segundas-feiras, ou com ingressos a R$ 15,00 (inteira) R$ 7,50 (meia-entrada) nos outros dias da semana.
Entre os primeiro e segundo andares do prédio da UNIBES Cultural em São Paulo é possível ter uma ideia muito viva de como as famílias Frank, Van Pelsen e o dentista Fritz Pfeffer passaram os últimos anos de suas vidas. Pela primeira vez no Brasil é montada uma cópia fiel do anexo secreto, tal como o original em Amsterdã, que abrigou as oito pessoas que se esconderam do regime nazista para salvarem suas vidas.
A exposição começa ambientando os visitantes na Europa dos anos 1930-40, época da ascenção do regime nazista, da promulgação das leis de pureza racial, da proibição dos judeus de frequentarem lugares públicos e do início da Segunda Guerra Mundial. Ao iniciar o percurso ouve-se a voz de Anne Frank, em português, narrando trechos de seu diário em que relata a festa de aniversário em que ganhou o diário de presente, o fato de que ela e seus amigos só poderiam frequentar uma determinada sorveteria, uma das poucas a ter permissão para servir judeus, entre outros fatos de sua vida.
No segundo andar estão expostas obras de arte que dialogam com os temas do racismo, da intolerância, do discurso de ódio e como estes são temas tanto universais quanto atemporais. É sempre o lugar e a hora de se levantar contra todo e qualquer tipo de discriminação.
A CONIB conversou com Carlos Reiss, curador da mostra, sobre a exposição.
É a primeira vez que temos uma exposição tão imersiva na história de Anne Frank aqui no Brasil. Mesmo depois de tantos anos após o final da Segunda Guerra e da publicação de tantos outros diários que tocam no mesmo tema, por que a história de Anne Frank continua sendo tão relevante? O que faz da história dela tão especial?
O Diário de Anne Frank surgiu no circuito literário mundial num momento em que a memória do Holocausto ainda vivia uma fase difícil, de muita massificação e pouca personificação. Eram os anos 50, um período primordial para mostrar ao mundo a dimensão do que foi a Shoá, a grandeza do extermínio cometido contra os judeus.
Um dos fatores importantes da memória de Anne Frank foi seu poder em ajudar no início de um processo de personificação do Holocausto. Foi um dos primeiros rostos e das primeiras vozes que o mundo conheceu acerca dessa tradgédia.
Mas há muito mais. Dizer que o Diário é extremamente atual, imagino que é bastante óbvio. Existe na autora a busca tanto da eternidade quanto da individualidade. Lemos um relato genuíno, sincero e absolutamente humano de uma menina adolescente que, mesmo em meio a um contexto absolutamente anormal, continuou escrevendo de maneira tão apaixonada. E por isso é tão fácil se identificar com ela. Os jovens que leem o diário reconhecem a sua voz, seus pensamentos e seus desejos. Quando Anne fala dos problemas, dos medos, das dúvidas e dos planos, de forma tão madura e cativante, ela se conecta às gerações de jovens que, em diferentes circunstâncias, amadurecem e atravessam seus próprios percalços.
Por onde se inicia a curadoria de uma mostra como esta?
Adorei a pergunta. Sou sempre perguntado sobre as etapas finais, e nunca sobre o início – que é uma etapa muito sensível. Em todas as exposições, o primeiro passo é estabelecer um arcabouço teórico sobre os temas que serão tocados. Aqui, no caso, já existia a premissa de se trabalhar com um tripé que envolveria Anne Frank e o Holocausto, Direitos Humanos e arte / arte-educação.
O início pressupõe a construção de uma bagagem teórica, a produção do que chamo de “textos curatoriais livres” e principalmente um trabalho de capacitação e formação de todos os profissionais que estão envolvidos no processo, desde o início: equipes de arte, de cenografia, de educação, de expografia, de pesquisa. É importante que a “voz do curador” esteja . É o que dá a segurança de que estamos todos juntos, no mesmo degrau, e que tudo vai fluir naturalmente.
Nós somos a última geração que vai ter a oportunidade de conviver com sobreviventes do Holocausto; como manter a memória da Shoá viva e o tema relevante para as próximas gerações?
A pergunta de milhões. Em 2022, escrevi um texto sobre isso.
https://www.plural.jor.br/colunas/holocausto-e-atualidade/perda-iconica-reacende-discussao-como-educar-sem-sobreviventes/
Não existe uma solução única. Seguiremos trabalhando de forma multi e transdisciplinar, nos ancorando na literatura universal e nos registros históricos coletados e sistematizados pelos cientistas nas últimas décadas.
O potencial temático e transformador que o Holocausto nos proporciona, aliado à busca pela atenção de novos públicos e o desenvolvimento arrebatador da tecnologia, nos vislumbram um futuro promissor para a construção dessa memória – mesmo sem os sobreviventes aqui presentes, fato natural da vida. Importante é que novas propostas educativas sejam constantemente concebidas e delapidadas, evitando que a extinção do testemunho ao vivo nos alcance de surpresa. Como em toda memória, há muito caminho pela frente.
SERVIÇO:
Data: de 03/08 a 22/12/2024
Horário: das 13h30 às 19h, de quarta a domingo
Local: Unibes Cultural (1º e 2º andar)
Classificação indicativa: Livre
Ingressos: R$ 15,00 (inteira) R$ 7,50 (meia-entrada)
*Entrada gratuita às sextas-feiras com reserva de ingresso (ingressos liberados às segundas-feiras)
Para agendamento de escolas públicas com gratuidade às sextas-feiras, é necessário preencher o formulário no link abaixo:
Informamos que ainda há vagas para novembro e dezembro.
Para agendamento de grupos e escolas particulares, de quarta a domingo, é necessário preencher o formulário no link abaixo:
ATENÇÃO: O retorno das solicitações de agendamento é feito de quarta a domingo, entre 12h e 19h.
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES PARA A SUA VISITA:
-Os ingressos só podem ser adquiridos pela plataforma ou site da Fever. Não há ingressos à venda no local.
-É importante chegar pelo menos 10 minutos antes da sessão adquirida para validar o ingresso.
-Não será permitida a entrada após o horário do ingresso.
-Não é permitido entrar com bolsas, mochilas, sacolas, pochetes, bebidas e alimentos de qualquer tipo nos espaços expositivos. Há guarda-volumes, mas recomendamos que se evite trazer tais objetos.